viernes, 17 de mayo de 2013

O Escutar no meio de uma cultura digital




Cristiane Aparecida Monteiro-


Um dos temas de comunicação que sempre me chama muito a atenção é aquele do saber “escutar”. Nenhum de nós nasceu falando, pelo que conheço até hoje e para poder falar, é necessário exercitar-se na escuta. Se voltamos alguns milênios na história da humanidade veremos que o ouvido era um orgão de grande importância para garantir a sobrevivência e para defender-se dos animais perigosos. Em tempos mais recentes, algumas vezes assistindo os filmes de faroeste,  notamos que os indígenas, colocavam o ouvido no chão e desta forma conseguiam identificar o que se aproximava e até mesmo a qual distância se encontrava. Poderíamos dizer que seja banal pensar sobre isso, mas o fato que homem fale não é por nada banal. E diriam os filósofos do século XX: - O homem falou, porque Alguém falou com ele por primeiro -. O homem escutou alguém que o interpelou, o provocou a um diálogo, a uma comunhão. Todos nós somos filhos da palavra, ela nos foi dada pelos nossos pais. Que felicidade foi aquela dos nossos pais quando escutaram os primeiros balbuciares das nossas palavras, que para eles eram fonemas extraordinários e os deixavam extasiados. Pela palavra expressamos o mundo interior para o mundo exterior. Mas para toda palavra pronunciada precisa de alguém que a escute, a compreenda e atribua um significado.

O que gostaria de refletir com você nestas páginas é sobre o valor e o desafio de escutar para o homem de hoje, sucumbido em um mundo cheio de informação que chegam por canais cada vez mais sofisticados e que o mantém em contínuo estado de “recebimento” de textos e mensagens de diversas partes do mundo, com argumentos multidirecionais. Vamos analizar também como podemos viver melhor neste tempo da Rede, com a ajuda do Padre Spadaro, autor de tantos livros e idealizador da Cyberteologia, que se trata de um estudo teológico da comunicação no tempo de internet, este habitat comum dos atuais seres humanos. A rede longe de ser uma realidade fria, é um lugar de revelações profundas do homem e alí os conhecimentos são construídos não tanto a base de conteúdos estáticos, mas através de uma rede de relações personalizadas.

Escutar, condição para a comunição
Entrando na questão do títolo proposto, “Escutar no meio de uma cultura digital”, comecemos por tentar definir o que seja esta palavra. Primeiramente escutar é um fator essencial para a interação comunicativa.[1] Na comunicaçao interpessoal, sempre estamos assumindo ora o papel de quem escuta, ora o papel de quem fala.[2] Portanto escutar é uma ação e um modo de estar que constitui um fator essencial da vida cotidiana de cada pessoa humana.
Seguindo um senso comum e uma aproximação ao termo se faz necessário distinguir que “escutar” nao é uma percepção meramente fisiológica. Também os animais escutam, e alguns possuem este sentido até mais desenvolvido que os seres humanos. Mas para o homem, aquele que pelo menos quer comunicar-se com os outros, a escuta se manifesta como um inteligente, atento e prolongado ouvir que interpreta.[3] De fato vemos que a nossa sociedade há quase delegado aos psicólogos esse trabalho, porque para escutar é preciso ter a coragem de perder tempo com o outro e procurar entender o que emerge do seu interior.
Nas Ciências de comunicação, também tentei averigar um significado único para a palavra, mas os próprios pesquisadores não conseguiram chegar a uma definição comum. Talvez eles não se escutaram suficientemente! Apesar desta consideração provocante, encontrei um estudioso, o Dr. Robert N. Brostom que em 1990, não disse o que seria escutar, mas concluiu a sua conferência dizendo o que seria uma pessoa que escuta: «the term, ‘good listener’ has become a synonym for a caring, other-oriented person».[4] Deixei na língua original para não perdermos a riqueza de cada palavra e podermos intuir que se pode escutar com o ouvido, mas se deve também escutar com a vista, com os sentidos, com o coração e com toda a pessoa. Porque aquele que escuta se interessa por alguém, ele se importa com o outro, ele cuida do outro e ao mesmo tempo ele também é cuidado e amado.
Herbert Franta e Giovanni Salonia também nos oferecem uma chave de leitura a este termo: segundo eles, para poder escutar, é necessário desenvolver potencialidades comunicativas, que não está reservada somente aos profissionais do campo da psicologia, do couseling, da educação etc. mas à todos aqueles que querem comunicar sadiamente de maneira humana. Segundo eles, os problemas de comunicação do homem de hoje, não são resolvidos com sentimentos de solidariedade.[5] Um bonismo por si mesmo, que não atinge a pessoa de maneira concreta. O homem de hoje precisa recuperar um contato maior consigo mesmo, com o outro e com Deus.
Recordemos que na antiguidade, nos círculos de conversas do povo grego, a cultura oral era uma espécie de enciclopédia confiada a quem escutava. Cada pessoa conservava a palavra recebida dos seus mestres. Ela era como que escrita na alma e gerava resonâncias que eram transmitidas para as futuras gerações. Recordemos por exemplo de Platão, que dizia que os discursos das coisas justas, belas e boas deveriam ser entregues diretamente pelo mestre ao seu discípulo como “palavras vivas” escritas diretamente na alma e não a uma escritura estática.[6] A cultura de  hoje é bem cheia de conteúdos, mas eu me pergunto se o que lemos ontem na internet, ainda nos lembramos como os alunos de Platão? Hoje somos mais alunos do Google com palavras chaves, que confiantes na nossa própria capacidade de memorizaçao e de elaboração de discursos mais complexos.
Uma outra indicação e curiosidade para quem aprecia a esegese bíblica, é que segundo os estudiosos da Tradição rabinica, a palavra escuta aparece mais de mil vezes na biblia e se encontra entre os dez verbos mais citados.[7]  Podemos pensar o significado do Šema‘ Yiśrā’ēl (Dt 6,4) – que não pode ser ignorado, porque o escutar significa um pacto de amor, onde Deus convida seu povo a escutá-lo e Ele mesmo escuta a oração de Israel.[8]



Demos um salto do outro lado do mundo e encontramos um professor emérito de Retórica da Universidade de Minnesota, Dr. Ralph Nichols, considerado por Paul King, como o “pai das ciências contemporâneas da escuta”, em 17 de fevereiro de 1980 deu uma conferência em Atlanta – Georgia com o tema: “The struggle to be human. Nesta ocasião ele afirmou que temos a urgência de aprender a resolver os conflitos através da escuta. Ele também é o idealizador da International Listening Association (ILA), e quiz comprovar cientificamente que “compreender e ser compreendido” é essencial não somente para solucionar os conflitos esternos e internos, mas para tornar-se mais plenamente humano.[9] Se em 1980 se tinha essa urgência de escutar uns aos outros para melhorar nossos relacionamentos, penso o que ele poderia nos dizer depois de 33 anos em uma época hiper-digitalizada, (quase) totalmente globalizada e com outros tipos de distúrbios comunicativos.
Neste caminho de escuta, a ciência que mais dedicou tempo ao argumento foi a psicologia  da comunicação. Ela queria compreender o desenvolvimento das doenças psicológicas do século XX (depressão, stress, alto indice de suicídio e insatisfação, perda do sentido da vida), a sua preocupação era entender as aparições destes desequilibrios, que hoje sabemos que decorre das mudanças bruscas nos hábitos humanos. Desta forma a psicologia da comunicação quiz aprofundar quais eram as lacunas da relação humana e encontrou que uma delas estava estreitamente relacionada ao próprio modo de escutar do homem, que vive subjulgado em um ambiente que jaz sobre o peso da poluição sonora dia e noite. Encontrar um lugar silencioso é um trabalho difícil, porque de todos os lados se acumulam nos nossos ouvidos sons de todas as qualidades. Talvez seja por isso que os nossos jovens preferem colocar o seu fone de ouvido e escutar somente aquilo lhes interessam, sem se importar com os ruídos que estão à sua volta. Uma coisa é certa, a qualidade da nossa vida e o grau da nossa civilização depende também da qualidade das paisagens sonoras que conseguimos criar em torno a nós. Segundo Edmund Shafer, estudioso de acústica, o homem de hoje precisa, como ele chama, de uma ecologia sonora para melhorar a qualidade de vida comunicativa,[10] ou seja, tirar os excessos, educar o ouvido a perceber os sons que emergem do ambiente, aprender a silenciar para escutar profundamente as mudanças que estão acontecendo ao redor de nós e atribuir a elas um significado coerente com a nossa percepção.
Tendo presente que este tema da escuta é muito relevante no mundo da comunicação e por séculos foi o único meio utilizado pelo homem para transmitir as gerações futuras o patrimônio do conhecimento, das tradições, das ciências e culturas, tentemos compreender quais os tipos de escuta que o homem precisa realizar no mundo das suas relações e porque a rede é tão atraente para este tipo de contato.
Vittorio Castellazzi, é um escritor, professor e pesquisador, e escreveu vários livros sobre este tema. Ele consegue individuar 3 tipos de escuta, intimamente interligados um ao outro: escutar a si mesmo, como chave para entender a própria história, identidade e evolução,[11] escutar o outro, de coração aberto e acolhedor. E ser escutado, como capacidade de ser acolhido e participar desta experiencia.[12]
O autor afirma que o nosso primeiro e grande interlocutor somos nós mesmos e o nosso mundo interior precisa ser escutado. Para uma leitura/escuta do nosso interior, se faz necessária a capacidade de estar sozinho, de estar em silêncio, de abster-se dos barulhos externos. Um pouco dificil para a nossa sociedade industrializada. Até na igreja, diz ele, onde o silêncio deveria ser respeitado, o murmúrio das conversas atrapalha e desvirtua o espírito de oração. Um outro absurdo que acontece nas nossas casas – principalmente aquelas localizadas nos grandes centros industrializados, como são as capitais –  são as mil e umas formas de neutralizar os sons que vêm de fora, com um revestimento acústico milionário. O que acontece é que quando a pessoa chega em casa, até mesmo sem perceber ou liga a TV ou coloca a rádio em volumes altíssimos. Então o problema não é o barulho, mas o medo do silêncio e de sentir-se sozinho. E ainda mais, quando até se procura um silêncio externo, mas internamente existe um mundo agitado, cheio de pensamentos e uma falta de capacidade de estar sozinho consigo mesmo, porque não se sabe administrar as próprias emoçoes, as ansiedades e os medos.[13]
O Dr. Ralph Nichols, citado acima, estudou por 40 anos as questões da escuta e escreveu um livro com o tema, Listening. Is a 10 part skill (1957), muito interessante que oferece uma espécie de decálogo como proposta de formação ao bom escutador/comunicador. Ele dizia que para escutar é preciso conservar a mente aberta, até porque somos uma realidade multidimensional e existem pontos desconhecidos a nós mesmos. Você ja deve ter vivivo uma situação similar: alguém diz uma palavra ou uma frase e a sua reação é negativa e até um pouco primitiva. Isso acontece porque existe uma necessidade incosciente de defender nosso território emocional, que pertencem às realidades sensíveis do nosso intelecto, ou seja, nossas emoções.[14] E como saber controlar as próprias emoções? Segundo o professor Daniel Goleman, muito conhecido pelo livro “Inteligência Emotiva”, em primeiro lugar precisamos saber nomeá-las e distinguir os sentimentos que se passam dentro de nós para poder agir mais liberdade e inteligência racional. Ele afirma que a razão das nossas reações, às vezes verdadeiras grosserias nos relacionamentos, se deve ao fato de que ler o que se passa dentro de nós é muito difícil, e muitas vezes vem à tona realidades da nossa vida que aparentemente estavam adormecidas. Desta forma quando alguma coisa ultrapassa o limite (de segurança), o impulso vem antes no coração que na mente e quando temos sentimentos muito intensos, estes reagem naturalmente, porque estão ligados às emoções. Ele afirma que quanto mais forte a emoção, mais a nossa mente racional é enganada e colocada a serviço da mente emocional.[15]
Portanto para realizar uma escuta acurada de si mesmo, precisamos ser sinceros, verdadeiros e conscientes de que se caminha em um fio oscilante e frágil da nossa natureza humana. No escutar a si mesmo, é necessário uma aceitação dos próprios limites e da própria verdade, de outra forma, será muito difícil escutar os outros.[16] Para problemas difíceis não existem explicações simplificadas e superficiais, com frases prontas e idéias fixas. O ser humano precisa ter paciência consigo mesmo e com seus processos interiores, mas sinceramente nem conseguimos esperar dois segundos diante de uma página de internet que está carregando à nossa frente. Imaginemos o que não exigimos de nós mesmos, por falta da capacidade de se auto-escutar e por isso auto-entender-se.
A maioria destes autores que citei acima, fazendo um resumo muito breve de seus estudos concordam que a nossa escuta pode ser limitada e fechada em si mesmo. Por isso ela precisa entrar constantemente em contato com outras realidades das pessoas e de mundo. Eles afirmam que a escuta de nós mesmos está estreitamente ligada a escuta do outro.[17] Quem escuta o outro, está abrindo a porta da sua casa, lugar de intimidade da família e do encontro com aqueles que ama. Usando a metáfora do útero materno, ele intuiu que escutar o outro é oferecer um útero psicológico, capaz de ajudá-lo a saiar da prisão dos seus conceitos e idéias negativas. O interlocutor coloca em comum suas emoções, estados de ânimo, esperanças e medos, dor e sofrimento. Quem é de fato escutado se sente reconhecido e amado, porque os ouvidos são apenas um orgão, mas o que de fato acolhe  é o coraçao.[18]
No início do Pontificado do Papa Francisco, ele nos convidou a “não ter medo da bondade e da ternura”. Para o estudo que estamos fazendo, podemos acrescentar que escutar o outro é amar com bondade e com ternura. É não ter medo de ser presença de uma pessoa que acolhe, aceita, valoriza e se torna companheiro de viagem. Dentro desta comunicação, cheia de empatia, nos sentimos parte um dos outros, raça humana, cheios de esperanças e coragem para afrontar os desafios deste mundo.[19] Na escuta entra em jogo outras caraterísticas para-linguísticas e extra-linguisticas, por exemplo, a voz, a tonalidade, estados de ânimo e a comunicação não verbal que também são fatores de reconhecimento e que transmitem significados para além das palavras.[20]

Com todas essas observações, vemos o quanto é rica e complessa a comunicação humana, principalmente aquela interpessoal. No tu-a-tu nos são revelados detalhes importantes e profundos,  mas que atualmente estão ganhando sempre mais espaço através da interface do computador e dos dispositiveis movéis, cada vez mais acessíveis. Vivemos em um ambiente que nos é familiar (internet), nos encontramos em uma praça pública digital (social network) e estes eventos que permeiam nossas atividades direcionam e formam nossa linguagem e o nosso modo de relacionar e de escutar a pessoa. Não a caso dizemos ao nosso amigo após um encontro pessoal: “Nos vemos no facebook”; “Espero a sua confirmaçao no whatsApp”; “Nos falamos no chat do Face”, “Voce já retuitou a minha mensagem?” Sem contar a escritura reduzida de msn que se converteram em um sistema de decodificação que para um senhor de 60 anos seria uma nova língua.
Para os nativos digitais este tipo de interação, de linguagem é uma coisa tão normal, como qualquer outra realidade humana. O Papa emérito Bento XVI na sua encíclica Caritas in veritate, n.69 nos diz que «a tecnologia é um fato profundamente humano, ligado a autonomia e a liberdade do homem. Na técnica se exprime e se confirma o senhorio do espírito sobre a matéria». E próprio alí, na tecnologia que ao mesmo tempo, se manifestam as aspirações do homem, enraizadas no seu coração que é aberto aos conhecimentos e as relações humanas.[21]
Na rede existem seres humanos esperando reconhecimento (face) e aceitação (pedido de amizade). E estas duas características estão presentes na relação de escuta, ou seja na fala reconhecemos a voz como identidade da pessoa (dificilmente uma voz engana) e na aceitação do outro, damos a ele a oportunidade de participar do nosso mundo e vice-versa.
Porém escutar é uma tarefa dura e muito trabalhosa. E existem dificuldades para serem superadas, como por exemplo: o mau-entendido que geralmente se instala no processo de codificação e decodificação da mensagem e se forma no momento em que a mensagem vai enviada, abrangendo aspectos do conteúdo e da relação. O juizo é também um outro obstáculo à escuta. Infelizmente muitas pessoas querem aprisionar o outro dentro de seu esquema mental. Este é incapaz de assumir a própria responsabilidade na comunicação e todo o tempo da conversa ele estará calculando, condenando e desaprovando interiormente.[22] A escuta passiva é um outro fator que dificulta uma boa comunicação. Em uma conversa não é possível que um escute o outro sem dizer uma palavra de confirmação, uma reformulação da frase ou um gesto qualquer que mostre o seu interesse pela conversa. Disso não nos esquecemos que existem conversas longas e cansantivas no qual perder a atenção é normal, mas quem se coloca a escuta precisa participar ativamente com toda a sua pessoa, seja a nível verbal como não verbal.[23]
Além destes três exemplos, Castellazzi nos indica que existem outros tipos de escutar erradamente uma pessoa. Vamos rapidamente passar por cada uma delas: a escuta narcisistica que nasce da exasperada necessidade de ser amado; a escuta parcial e dividida em bom e mal; a escuta presuntuosa que vê o outro do alto; a intolerante que se fecha diante de um ponto de vista diferente do seu; a agressiva que a todo custo quer impor seu ponto de vista; seletiva que escuta parcialmente, só aquilo que quer ouvir; a escuta preguiçosa e emotivamente separada; a superficial e veloz que não sabe esperar; ou ainda aquele que tudo já sabe e não se interessa de fato por aquilo que o outro diz; a escuta idealizada que aceita tudo no positivo para não entrar na realidade; a escuta banal e ainda aquela fora do contexto.[24]
São observações e pesquisas realizadas no campo comunicativo que revelam os ruídos de uma comunicação humana, que nos leva a entender que o processo comunicativo entre as pessoas é complesso e ao mesmo tempo dinâmico. A escuta, como temos apresentada, é uma ação que solicita presença e dedicação, que são alimentos básicos de qualquer interação humana.

A Rede é um ambiente caloroso de relações
Neste complexo multidimensional que é o ser humano, nos perguntamos o que acontece quando se tem à disposição um espaço sem fronteiras para expressar pensamentos, recontar a história pessoal, partilhar interesses, experiências, sonhos e aspirações profundas? O que faz entregar a privacidade e comunicar cada passo da jornada com dados muito precisos, espontâneos e sensíveis? Por que é tão importante viver conectado e em todo tempo esperando o recebimento de uma mensagem? E ainda, porque mesmo juntos com as pessoas que amamos é dificil desligar-se do aparelho de 5 centímetros?
Se o ser humano desde de sempre foi chamado a uma relação de amor com o seu próximo, porque este meio é quase mais fascinante que a pessoa ao lado? Pe. Antonio Spadaro, nos oferece uma explicação que vem ao encontro do nosso estudo. Ele diz que a rede é um ambiente “caloroso” e por isso se manifesta como um lugar confidencial, porque permite expressar coisas que na vida real seria muito difícil de dizer. Na rede a pessoa pode ter uma abertura completa com espontaneidade e grande nível de autenticidade. Muitas vezes e infelizmente pode-se chegar aos extremos da falta de limites e pudor. O Ciberespaço é um lugar emotivamente caloroso e não tecnologicamente frio. O crescimento da Web 2.0 nos fez compreender que os relacionamentos estão ao centro do sistema e da partilha dos conteúdos, cada vez mais personalizados. No início, recordemos que a internet era uma rede de páginas e conteúdos. Ao contrário nos dias de hoje, a rede emerge das relações. Pe. Spadaro afirma que a rede não é um agregado de pessoas, mas um conjunto de relações entre as pessoas. O conceito não é a presença na rede, mas a conexão: se você é presente, mas não está conectado, então se encontra sozinho. A pessoa neste sentido entra na rede para experimentar uma forma de proximidade.[25]
Quando queremos falar algo importante e confidencial a alguém, geralmente mudamos o tom de voz, a maneira de falar, as pausas, as palavras são bem escolhidas. E isso não é diferente na rede que aumenta nossas possibilidades de relação. Bento XVI na sua mensagem: “Novas tecnologias, novas relações”, menciona o perigo de que o desejo de conectar-se virtualmente se transforme em obsessão, e leve a pessoa ao isolamento, trazendo vários disturbios à vida pessoal, fazendo-a descuidar da necessidade de repouso, da pausa para a reflexão, de silêncio e oração tão necessários para o desenvolvimento integral do homem.
Um problema central que podemos encontrar é que a rede, chamada a colocar em conexão, na realidade se auto-isolasse. Ela de fato não coincide com um encontro pessoal que é uma experiência muito laboriosa a nível relacional. Não podemos chegar ao ponto de assistir a “morte do próximo” como explica o psicanalista Luigi Zoja citado por Spadaro. Ou seja, estar muito atento a quem se encontra a kilometros de distância, por causa de suas atualizações e constante presença no social network e esquecer de um amigo que vive ao lado, mas que não tem uma conta no facebook e muito menos usa e-mail.[26]
Pe. Spadaro nos orienta escolher um caminho para poder viver bem em tempos de internet. Nossas relações profundas não podem ficar limitadas na rede dentro de um “feed” de notícias do outro. Este não deve susbtituir o empenho pessoal dentro de uma relação autenticamente “encarnada” da qual uma das dimensões é a escuta profunda do outro, que esige uma doação significativa do nosso tempo e posso até dizer da nossa vida. Em um encontro autêntico com o outro nada permanece como antes, algo muda, tanto para o bem, como para o mau.
Estas “maravilhosas invenções”, não vieram para substituir a primazia do ser humano como autor da própria história e sujeito de relação. Não é o crescimento da tecnologia que determina o grau de nossas relações, mas é uma vontade natural do ser humano de criar laços de amizade, de cooperação e participação ativa na sociedade. Acredito que a pessoa que mais conseguirá viver bem em tempo de rede, será aquela capaz de escutar com os olhos, com os ouvidos e com o coração o que está por trás de um perfil ou um avatar e ao mesmo tempo sentir-se impulsionado a ir além daquela interface. O homem de hoje, talvez mais do que nunca precisa ser escutado e precisa de pessoas que caminhem lado a lado e sejam capazes de acolher suas esperanças e tristezas, de entender suas necessidades profundas, de ser compreendido e amado. Acredito que muitos já constataram da própria experiência que não basta ter um milhão de amigos virtuais e ter a disposição todos os aparelhos de última geração para ser feliz. As fotos sem amigos para partilhar, não teriam sentido.
Tenhamos presente que a tecnologia é uma invenção esplêndida, mas o homem é a “supremacia da criação” mesmo com todos os defeitos e dificuldades. Se o homem deixasse de existir, não teria razão que as outras coisas continuassem no universo. Em uma linguagem bem simples e fazendo uma comparação: o que seria o facebook sem amigos, o que seria o Google sem os seus exploradores e o que seria do Twitter sem os seus minijornalistas? Ou seja, todas as coisas criadas e inventadas foram feitas servir a humanidade e para conseguir de certa maneira à sua felicidade, a realização do seu desejo de entrar em relação com os outros e com o mundo, que são “aspirações radicadas no coração do homem”.






Bibliografia

ANNOLI Luigi, Psicologia della comunicazione, Bologna, Il Mulino, 2002.
ANNOLI Luigi, Fondamenti di psicologia della comunicazione, Bologna, Il Mulino, 2006.
Ascoltare, in Giorgio CUSATELLI (Ed.), Dizionario Garzanti della lingua italiana, Milano, Garzanti, 1965, 144.
BENTO XVI, Novas tecnologias, novas relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade, Mensagem para a 43° Dia Mundial das comunicações sociais, Cidade do Vaticano, 24 de maio 2009.
BENTO XVI, Redes sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização, Mensagem para a 47° Dia Mundial das comunicações sociais, Cidade do Vaticano, 12 de maio 2013.
CASTELLAZZI Vittorio Luigi, Ascoltarsi, ascoltare. Le vie dell'incontro e del dialogo, Roma, Edizioni Magi, 2011.
Comunicazione, in Franco LEVER – Pier Cesare RIVOLTELLA – Adriano ZANACCHI (Edd.), La comunicazione. Il dizionario di scienze e tecniche, Rivoli (TO) – Roma, ELLEDICI – LAS – RaiEri, 2002, 255-270.
FRANTA Herbert – Giovanni SALONIA (Edd.), Comunicazione interpersonale. Teoria e pratica, Roma, LAS, 61998.
GOLEMAN Daniel, Intelligenza emotiva, che cos'è, perché può renderci felici, Milano, Bur, 202009.
KANIA Anita, Silenzio, in Franco LEVER – Pier Cesare RIVOLTELLA – Adriano ZANACCHI (Edd.), La comunicazione. Il dizionario di scienze e tecniche, Rivoli (TO) – Roma, ELLEDICI – LAS – RaiEri, 2002, 1064-1067.
KING Paul E., Listening, in Wolfgang DONSBACH (Ed.), The international encyclopedia of communication, Malden (MA), Blackwell,  2008, 2715-2719.
MELLO Alberto, Ascolto, in Romano PENNA – Giacomo PEREGO – Gianfranco RAVASI (Edd.), Temi teologici della Bibbia, Cinisello Balsamo (Mi), San Paolo, 2010, 95-100.
MURA Gaspare, Pensare la parola. Per una filosofia dell'incontro, Roma, Urbaniana University Press, 2001.
NICHOLS Ralph G., Listening. Is a 10 part skill, Chicago, Enterprise Publications, 1957.
PASQUALETTI Fabio, Suono, in Franco LEVER – Pier Cesare RIVOLTELLA – Adriano ZANACCHI (Edd.), La comunicazione. Il dizionario di scienze e tecniche, Rivoli (TO) – Roma, ELLEDICI – LAS – RaiEri – LAS, 2002, 1105-1108.
SCHAFER R. Murray, Il paesaggio sonoro, Milano, Ricordi – Unicopli, 1985.
SPADARO Antonio, Web 2.0. Reti di relazione, Milano, Edizione Paoline, 2010.
SPADARO Antonio, Cyberteologia, pensare il cristianesimo al tempo della rete, Milano, Vita e Pensiero, 2012. 



Webgrafia

ADORO CINEMA, in

DOCUMENTARIO: O Mundo Sem Ninguém, The History Channel

NICHOLS Ralph G., The struggle to be human, (17/02/1980) in http://www.listen.org/Resources/Documents/14.pdf 1, (15/03/2011), 1-7.



[1]   Cf. Herbert FRANTA – Giovanni SALONIA, Comunicazione interpersonale. Teoria e pratica, Roma, LAS, 1998, 79.
[2]   Cf. FRANTA – SALONIA, Comunicazione interpersonale, 55.
[3]   Cf. Ascoltare, in Giorgio CUSATELLI (Ed.), Dizionario Garzanti della lingua italiana, Milano, Garzanti, 1965, 144.
[4]   Cf. Paul E. KING, Listening, in Wolfgang DONSBACH (Ed.), The international encyclopedia of communication, Malden (MA), Blackwell, 2008, 2718.
[5]   Cf. FRANTA – SALONIA, Comunicazione interpersonale, 56.
[6]   Cf. Gaspare MURA, Pensare la parola. Per una filosofia dell'incontro, Roma, Urbaniana University Press, 2001, 231-232.
[7]   Cf. Alberto MELLO, Ascolto, in Romano PENNA – Giacomo PEREGO – Gianfranco RAVASI (Edd.), Temi teologici della Bibbia, Cinisello Balsamo (Mi), San Paolo, 2010, 97.
[8]   Cf. MELLO, Ascolto, 96.
[9]   Cf. Ralph G. NICHOLS, The struggle to be human, (17/02/1980) in http://www.listen.org/Resources/Documents/14.pdf 1 (15/03/2011), 6.
[10] Cf. Fabio PASQUALETTI, Suono, in Franco LEVER – Pier Cesare RIVOLTELLA – Adriano ZANACCHI (Edd.), La comunicazione. Il dizionario di scienze e tecniche, Rivoli (TO) – Roma, ELLEDICI – LAS – RaiEri, 2002, 1106.
[11] Cf. Vittorio Luigi CASTELLAZZI, Ascoltarsi, ascoltare. Le vie dell’incontro e del dialogo, Roma, Edizione Magi, 2011, 12.
[12] Cf. CASTELLAZZI, Ascoltarsi, ascoltare, 44 - 49.
[13] Cf. CASTELLAZZI, Ascoltarsi, ascoltare, 17-18.
[14] Cf. Ralph G. NICHOLS, Listening. Is a 10 part skill, Chicago, Enterprise Publications, 1957, 12.
[15] Cf. Daniel GOLEMAN, Intelligenza emotiva. Cos'è. Perché può renderci felici, Milano, Bur, ²º2009, 336-341.
[16] Cf. CASTELLAZZI, Ascoltarsi, ascoltare, 29-31.
[17] Cf. CASTELLAZZI, Ascoltarsi, ascoltare, 25.
[18] Cf. CASTELLAZZI, Ascoltarsi, ascoltare, 44.
[19] Cf. ROGERS, Un modo di essere, 118-122.
[20] Cf. ANOLLI, Psicologia della comunicazione, 210-211.
[21] Cf. Antonio SPADARO, Web 2.0. Reti di relazione, Milano, Edizione Paoline, 2010.
[22] Cf. CASTELLAZZI, Ascoltarsi, ascoltare, 83.
[23] Cf. FRANTA – SALONIA, Comunicazione interpersonale, 70.
[24] Cf. CASTELLAZZI, Ascoltarsi, ascoltare, 82-88.
[25] Cf. Antonio SPADARO, Cyberteologia, pensare il cristianesimo al tempo della rete, Milano, Vita e Pensiero, 2012, 49-50. 
[26] Cf. SPADARO, Cyberteologia, 52. 

About Syed Faizan Ali

Faizan is a 17 year old young guy who is blessed with the art of Blogging,He love to Blog day in and day out,He is a Website Designer and a Certified Graphics Designer.

0 comentarios:

Publicar un comentario